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sábado, 3 de janeiro de 2015

Os desafios da escola líquida.



por Carlos Nepomuceno, blogueiro convidado

Neste mês, a seção “Blog convidado” reproduz um texto do blog de Carlos Nepomuceno, jornalista e Doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal Fluminense/IBICT.

-“Enquanto houver separação entre o observador e a coisa observada, haverá divisão” – Krishnarmuti;

Um mundo mais conectado é muito mais dinâmico do que um menos conectado.Um mundo mais povoado nos leva a problemas mais complexos e mais urgentes, o que acelera ainda mais a taxa de velocidade das mudanças. Um mundo hiper-povoado e hiper-conectado acelera a demonstração de problemas, pois o que estava mais oculto na era cognitiva impressa/eletrônica está vindo à tona com força na nova era digital.

A escola atual foi concebida para um mundo com uma alta taxa de imobilidade, de repetição e de baixa criatividade. Um mundo com taxa maior de mobilidade, nos condiciona a uma escola mais criativa, pois o mundo pede mais inovação.O ciclo dos produtos se reduziu, bem como o da duração de uma empresa – buscar sempre um novo paradigma é preciso.

Mudar ou morrer!

A escola, que é uma ferramenta humana para se viver melhor, deve ajudar a sociedade a formar um novo perfil de aluno, que possa ser mais adaptado a esse mundo mais rápido e mais líquido. Note bem que não é o alinhamento a um aluno com computador, mas um aluno que vive em um mundo no qual o computador acelerou as coisas e que ele precisa agir e pensar de forma diferente por causa disso para, inclusive, resolver os problemas que o computador traz.

Uma escola mais líquida e mais criativa nos leva necessariamente à aproximação do professor e dos alunos à uma maior modificação da realidade. Se o aprendizado torna-se apenas um processo de transmissão de ideias, reduz-se a taxa de criatividade e aumenta-se a do adestramento. Altas taxas de adestramento nos levam a perda da capacidade de criar.

Podemos dizer que a realidade no ambiente de aprendizado é apresentada, através do material didático, baseado em assuntos geralmente desencadeados e particionados para que se possa ter um controle e um método de ensino padronizado. A migração para uma escola mais criativa passa necessariamente pela possibilidade de alteração do material didático, a partir do diálogo estabelecido entre os alunos, guiado pelo professor (uma pessoa com mais experiência na discussão do problema em voga e especializado a facilitar a interação e recriar materiais didáticos, a partir da interação presencial e a distância).

O material didático, além de mutante, deve não mais estar focado em assuntos, mas ser direcionado para problemas.

- Assuntos são cumulativos, não são multi-disciplinares e causam barreiras entre professores e alunos.

- Problemas são sempre renovados, multi-disciplinares e aproximam professores e alunos.

O material produzido por estes encontros, baseados no diálogo, devem ser armazenados de tal forma a permitir sua contínua alteração, através do uso intenso de tecnologias cognitivas colaborativas (em especial documentos wiki).

- Os professores da escola mais sólida fizeram do material didático a sua identidade, potência.

- Os professores da nova escola mais liquida devem fazer da recriação do material didático, da facilitação, da promoção da conversa a sua nova identidade e potência. A escola mais liquida tem como principal missão o resgate do diálogo para recriação da realidade, produzindo constantemente um material didático também líquido e colaborativo.

Assim, existem dois tipos de tecnologias cognitivas que vão ajudar a escola mais liquida:

- as presenciais, principalmente a fala e a escuta (tendo um espaço para registros rápidos do diálogo tal como um quadro branco, que pode ter recursos digitais);

- e as distantes, através do computador em rede sempre voltadas para a melhoria do diálogo, através de plataformas com boa interface colaborativa, promovendo a conversa aluno-aluno (de todos que estão focadas em dado problema) e professores (de todos que estão focados em dado problema), sem distinção de idade, local, série, escola.

O uso do computador em encontros presenciais para a promoção do diálogo e recriação de material didático é um veneno. A falta do computador para encontros não presenciais para a promoção do diálogo e recriação de material didático é um veneno. Sem diálogo, atenção, empenho em aprender de forma coletiva – não há escola líquida!

As tecnologias cognitivas devem, portanto, sempre estar voltadas para ajudar – e não atrapalhar o diálogo. A nova escola mais líquida deve, assim, ajudar a formar alunos mais preparados do que os atuais a recriar a realidade mais mutante. Alunos que possam adquirir mais capacidade para se comunicar, de aprender com seus pares, recriando a realidade, em grupo, em rede, seja presencial ou a distância.

A melhor forma de fazer essa migração é através da criação de ilhas (zonas franca) de inovação, nas quais a nova cultura do diálogo deve ser criada sem a intoxicação da escola tradicional. Não, não há, a médio prazo, a opção de se manter a escola sólida. É apenas uma questão de tempo e principalmente custo (quanto mais se adiar, mais caro e menos planejada e eficaz será a migração!!!).

O mundo mudou com a chegada de um novo ambiente cognitivo (sem volta), que nos traz, cada vez mais, à tona a realidade do que, de fato, é viver com 7 bilhões de pessoas – as alegrias da diversidade e as agruras de termos que nos apertar cada vez mais. A escola – que é uma ferramenta para ajudar a melhorar o mundo – deve mudar da atual borboleta para um beija-flor para continuar a exercer seu importante papel. E não, não é batendo mais a asa, ou fingindo que está beijando flores, que vamos fazer essa mudança!


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