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quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Educação da Europa que pode influenciar a sala de aula no Brasil.



Recém-lançado, o NMC Horizon Report Europe – 2014 School’s Edition traz as principais inovações e desafios da Educação para os próximos cinco anos
por Gustavo Sumares

O NMC Horizon Report Europe - 2014 School’s Edition acaba de ser lançado. O relatório estuda o uso das TIC na educação e mostra quais são as tendências e desafios nessa área para os próximos cinco anos no Ensino Fundamental e Médio. A pesquisa avalia novas formas de utilização educacional da tecnologia, dividindo-as em “tendências próximas” (aquelas cujo impacto poderá ser sentido em um ou dois anos), “tendências médias” (que levarão três a cinco anos para se fazer sentir) e “tendências distantes” (que ainda levarão cinco anos ou mais para impactar a educação).

Tendências de curto prazo

As duas tendências imediatas percebidas pelo estudo são a crescente ubiquidade das mídias sociais e a redefinição do papel do professor na sala de aula. Segundo o estudo, o uso cada vez mais frequente e comum das redes sociais virtuais cria novas formas de relacionamento e, consequentemente, novas oportunidades de aprendizado.

Com relação à segunda tendência, o Horizon Report afirma que, conforme as escolas adotam programas educacionais que colocam o aluno no centro do processo de aprendizado, os professores passam a ter um papel de “guia” dos estudantes em sua busca por conhecimento.

A sala de aula em médio prazo

Para o médio prazo, o relatório destaca um maior foco no uso de plataformas abertas de ensino: programas e tecnologias digitais de uso livre e gratuito, que podem ser alterados pelos alunos, com auxílio dos professores, para produzir novos resultados. Outra tendência prevista pelo estudo é um aumento na utilização de métodos híbridos de ensino, que misturam um acompanhamento próximo dos alunos pelo professor na sala de aula com o uso de plataformas digitais em casa.

Fique de olho para daqui a cinco anos!

As tendências que ainda devem levar cinco anos ou mais para impactar a educação, segundo o estudo, são uma evolução no uso da internet para o aprendizado e o surgimento do “data-driven learning” (aprendizado movido por dados). A primeira dessas tendências aponta para a ampliação e aprofundamento das ferramenteas digitais de aprendizado. A segunda delas, refere-se à possibilidade de coletar grandes quantidades de dados sobre o processo de aprendizagem e utilizá-los para criar programas de ensino mais bem direcionados e personalizados para cada aluno.

O relatório apontou, também, quais são as principais tecnologias que devem ser adotadas nos próximos cinco anos pelas escolas. No curto prazo (um ano ou menos), o estudo vê a adoção de tablets e da computação na nuvem, duas tecnologias impactantes por conta de sua portabilidade e disponibilidade cada vez maior. Para o médio prazo (dois ou três anos), são tendências os games e a “gamification” (que permitem unir o lúdico ao educativo) e o aprendizado com dispositivos móveis, fora da sala de aula. As tecnologias cuja adoção ainda levará cinco anos ou mais, segundo o relatório, são os laboratórios virtuais e remotos, que permitirão aos alunos realizar experiências científicas em ambientes virtuais, e o “ensino personalizado”: uma forma diferente de aprendizado, centrada nas metas e aptidões de cada aluno.

Desafios

Além das tendências, o estudo enumerou os principais desafios que as escolas europeias devem enfrentar nos próximos anos. Eles foram classificados em “desafios solucionáveis” (aquele que já são compreendidos e cuja solução já é conhecida), “desafios difíceis” (que já são compreendidos, mas para os quais ainda não há soluções bem estabelecidas) e os “desafios perversos” (aqueles que ainda não estão sequer bem definidos). O relatório destacou os dois principais desafios de cada tipo.

Os desafios solucionáveis são a integração do uso das TIC nos programas de formação de professores, e o aumento da competência digital dos alunos: a necessidade de capacitar os estudantes para aprender num cenário tecnológico que está em mudança constante. Os desafios considerados difíceis são misturar o aprendizado formal e o aprendizado informal (que é dificultado pela ausência de meios de certificar o aprendizado que ocorre fora da sala de aula) e criar oportunidades autênticas de aprendizado, que tragam experiências da vida cotidiana para as aulas.

O desenvolvimento do pensamento e da comunicação complexos foi classificado pelo NMC um desafio “perverso”. O desenvolvimento dessas formas de interação seria, segundo o estudo, essencial para que os alunos pudessem compreender e interagir mais facilmente com sistemas virtuais e inteligências artificiais - uma habilidade que tende a ser cada vez mais valorizada. Na mesma categoria, está o desafio de posicionar os alunos como co-criadores do sistema de aprendizado, partindo do entendimento de que, quando os estudantes são responsabilizados pelo próprio aprendizado e se sentem capacitados para buscar soluções próprias para os problemas que lhes interessam, eles se tornam mais curiosos e envolvidos no processo.

E no Brasil?

Alexandre Sayad, diretor geral do Media Education Lab (MEL), que trabalha com escolas como o Colégio Bandeirantes, considera o Horizon Report uma espécie de parâmetro ideal para o futuro. Embora, em sua opinião, algumas das tendências apontadas pelo estudo possam ser adequadas ao cenário brasileiro, ainda temos muitas barreiras a superar.

Um desses desafios, segundo Sayad, é a formação de professores melhor capacitados para utilizar as TIC nas salas de aula - algo que o Horizon Report coloca como um “desafio próximo”. Para Sayad, a formação de professores no Brasil ainda é muito focada em aspectos históricos e ideológicos que, embora importantes, não capacitam os professores a “gerar novas maneiras de aprender”.

Além disso, Sayad acredita que o foco no vestibular também gera dificuldades para as escolas brasileiras, cujo currículo gira em torno das grandes quantidades de conteúdo exigido pelas provas de ingresso em universidades. Para ele, esse excesso de conteúdo muitas vezes impede que as escolas foquem no desenvolvimento das habilidades, competências e atuação comunitária dos alunos, ou busquem formas inovadoras de ensinar.

No entanto, Sayad vê nas novas tecnologias uma espécie de “catalisador” de mudanças importantes no ensino. O fato de que, frequentemente, os alunos tenham um maior conhecimento das novas tecnologias que os professores, por exemplo, pode promover entre eles uma relação mais horizontal e igualitária, ajudando a trazer os alunos para o centro do processo de aprendizado. A presença cada vez maior de dispositivos móveis como celulares e tablets, mesmo em escolas públicas de regiões mais pobres, também é vista por Sayad como um fator que permite aos alunos ter um papel mais central na educação, já que eles não dependem tanto da estrutura da escola.

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