Tenho
percebido que, assim como tem ocorrido com as revistas e jornais, muitos livros
didáticos já estabelecem conexões com o “mundo virtual”. Ainda que ameaçados de
perder o seu espaço – o que não acredito que vá acontecer –, de fato concordo
que é necessário que eles sejam aprimorados, quando não realmente reinventados,
buscando integrar as tecnologias às propostas de atividades.
Os
livros ocuparam um papel de credibilidade ao longo da nossa história, constituindo-se
praticamente no maior instrumento de segurança do professor. Hoje, contudo,
dada a velocidade da comunicação na internet, a escola deixou de ser o local
primordial de recepção de informações. Não é mais na sala de aula que o aluno
aprende primeiramente sobre uma descoberta ou mudança conceitual – para
comprovar isto, temos o exemplo de Plutão, que em 2006 deixou de ser
considerado um planeta. Quem estava on-line recebeu a novidade antes mesmo de
assistir aos noticiários da TV.
A
nova geração, acostumada com os recursos colaborativos e participativos cada
vez mais presentes na web, como a possibilidade de escolher o site que quer
acessar, os vídeos e recursos que quer ver, organizá-los em favoritos, curtir
ou não curtir um conteúdo postado por usuários, publicar suas próprias
informações em redes sociais ou microblogs como o Twitter, não aceita mais o
que lê de forma passiva, sem debater ou questionar o que é discutido em sala.
Se a aula não permite que essa geração atue desta forma, ela deixa de participar.
O
nosso Bruno, de 11 anos, se interessa muito por planetas e encontrou ontem uma
informação equivocada num livro sobre o assunto: a rotação não representa o
movimento da Terra em torno do sol, logo observou ele, mas sim o giro da Terra
em volta do seu próprio eixo. Não achei ruim o fato de o livro estar incorreto,
pelo contrário, pois a experiência foi bem significativa para ele, que
certamente terá um olhar mais atento ao que lê, sem achar que tudo que está nos
livros é correto ou escrito da melhor forma.
Neste
sentido, nós, educadores, temos um desafio ainda maior na web. Afinal, ela é um
ambiente em que qualquer um de nós pode publicar informações – certas, erradas,
justas, injustas… E muito questionáveis. Um exemplo é a Wikipedia, projeto
impressionante de criação de uma enciclopédia mundial, atualizada por milhões
de colaboradores, que aparece sempre em primeiro lugar nos buscadores e nas
buscas de nossos estudantes, muitos até universitários.
A
concepção da Wikipedia é maravilhosa. Há uma inteligência coletiva preocupada
em garantir a qualidade de seu conteúdo, desafio superado relativamente bem
pela comunidade atuante – quem ajuda a manter a Wikipedia melhor não consulta
uma única fonte e, em geral, realmente é interessado nos verbetes aos quais se
dedica.
É
importante desenvolvermos com os alunos o cuidado e, ao mesmo tempo, a
competência de saber comparar informações. É muito importante que os alunos não
tenham como única referência o primeiro site que encontram na web, tampouco
unicamente o conteúdo dos livros que recebem da escola. Todos estes materiais
podem ser ampliados com questionamentos e pesquisas. Sem contar as pesquisas
que podemos fazer por meio de fontes que não precisam ser livros e internet: há
conhecimentos que estão nas pessoas, no trabalho de campo, em um filme… Tudo
deve ser considerado na escola.
É
de se esperar que quem produz livro didático estabeleça maior conexão com a
internet, buscando com ela estabelecer parceria, de modo que cada recurso
consiga cumprir o seu papel. Por outro lado, os educadores também não precisam
esperar que isso aconteça. Não há material impresso ou mesmo na web que seja
suficiente para cobrir todas as milhares de estratégias que precisam ser
pensadas no dia a dia, até porque as melhores delas devem ser construídas a
partir das demandas trazidas pelos alunos. Porém, articular o que se discute
por meio de diferentes materiais (livro, internet, TV, passeios) pode trazer
muito mais significado e criticidade aos educandos, algo que é fundamental nos
dias de hoje.
Mary
Grace Pereira Andrioli é pedagoga graduada pela USP –
Universidade de São Paulo, mestre em Educação pela mesma instituição e
pós-graduada em Design Instrucional pela UFJF – Universidade Federal de Juiz de Fora.
Criadora da comunidade Vivência Pedagógica,
sócio-fundadora e diretora pedagógica do Instituto Paramitas, atualmente é pesquisadora
da Escola Politécnica da USP e consultora
do MEC – Ministério da Educação.
Mary
Grace escreve semanalmente para o Blog das Editoras Ática e Scipione. Saiba
mais sobre ela em:
Texto publicado no Blog da Editora Ática, “Eu Amo Educar”
http://institutoparamitas.org.br/web/artigos.php?id=83
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