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sábado, 3 de janeiro de 2015

Pai cria software para melhorar comunicação com sua filha e ajuda pessoas com deficiência.



Para entender melhor o que sua filha pensa e quais são suas necessidades, o analista de sistemas Carlos Pereira criou o software Livox, para pessoas com deficiência intelectual. Sua invenção já transformou a vida de mais de duas mil famílias.
por Aline Aurili

Clara Pereira, de seis anos, não fala devido a uma paralisia cerebral. Até dois anos atrás, a dificuldade que Carlos e Aline Pereira tinham para se comunicar com a filha era imensa. Por isso, o pai, que é analista de sistemas, foi procurar na tecnologia maneiras de melhorar as interações que tinha com Clara e, como não encontrou softwares brasileiros que solucionassem seu problema, resolveu desenvolver sua própria ferramenta, o Livox.

“Eu procurei as empresas fora do Brasil que já tinham softwares de inclusão, expliquei a minha situação e a de outros milhões de brasileiros [O Censo Demográfico de 2010, do IBGE, estima que o Brasil tenha 2,6 milhões de pessoas com deficiência intelectual], mas ninguém se interessou”, conta Carlos, que não queria apenas ajudar a sua filha, mas também outras famílias que enfrentam os mesmos empecilhos para conversar com crianças com deficiência intelectual. Sem ajuda externa, o analista de sistemas começou a procurar especialistas – como pedagogos e fonoaudiólogos – que pudessem ajudá-lo na concepção do software desenvolvido para tablets com o sistema operacional Android.

Antes de se apropriar da tecnologia, Carlos tirava fotos de alimentos e de objetos, colava em um álbum e escrevia o nome de cada coisa para mostrar as “plaquinhas” à filha. Dessa forma, Clara poderia indicar o que queria comer ou de que objetos precisava e ainda aprendia como se escreviam várias palavras. Com o software, as possibilidades de comunicação aumentaram. “Hoje eu entendo o que se passa na cabeça dela, suas preferências e seus desejos”, comemora.

Além disso, o Livox ainda traz diversas perguntas e respostas, com desenhos característicos, para que a pessoa com deficiência possa interagir em uma conversa. Todos esses itens são variáveis, ou seja, os pais podem incluir e excluir frases e fotos, assim como músicas e filmes ao repertório da criança. Também é possível incluir exercícios e materiais de reforço das atividades escolares. “Quando a Clara chegou à escola, a professora duvidou que ela conseguisse se alfabetizar. Então, pedi que ela soletrasse, com o Livox, duas palavras e ela conseguiu, porque já havia aprendido a ler”, relatou Carlos.

O analista de sistemas também levou em conta a dificuldade que muitas pessoas tinham ao manusear a tela touch. Então, ele aprimorou o software ao criar um sistema inteligente que entende o movimento e percebe quantos dedos estão na tela para corrigir o toque e indicar corretamente o que a pessoa está apontando. Carlos afirma que, com isso, ainda mais pessoas puderam ser atingidas pela ferramenta, como, por exemplo, pessoas com deficiência visual.

“Os usuários do Livox estão à margem da sociedade. Não conseguem emprego porque não conseguem se comunicar e esperamos começar a mudar essa realidade no Brasil”, explica Carlos, indicando que é necessário fazer com que ferramentas como essa cheguem ao maior número de pessoas possível. “Imagina quantos ‘Stephen Hawkings’ (renomado físico norte-americano com paralisia cerebral) não temos por aí?”, afirma.

O Livox não está disponível para download na Google Play (a loja online do Google, com os aplicativos disponíveis para aparelhos com o sistema Android). Quem quiser fazer o download do software deve entrar em contato pelo site www.agoraeuconsigo.org. Para que a ferramenta seja aproveitada da melhor maneira possível, a equipe responsável oferece treinamentos e cursos de capacitação para pais e outras pessoas que atuam no cotidiano da pessoa com deficiência.


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