Nos
últimos tempos, alguns palestrantes e articulistas que tenho acompanhado
costumam abordar o termo “nativos X imigrantes digitais”, muitos deles
inspirados em Prensky, autor do livro “Digital Natives, Digital
Immigrants”. De acordo com essa visão, a geração mais jovem acaba
demonstrando mais facilidade e interesse no uso das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC), justamente pelo fato de ter nascido neste mundo tecnológico
e por ter desde cedo acesso a estes recursos.
De
fato, é o que constatamos ao ver crianças bem pequenas manuseando com
facilidade desde o controle remoto da TV, até mesmo os celulares, videogames e
computadores. Quantos de nós já nos surpreendemos com exemplos destes na
família ou mesmo na escola?
Ainda
assim, é um tanto perigoso acharmos que isso é suficiente para que estas
gerações avancem e consigam de fato aproveitar o potencial das TIC de forma
produtiva e é também um tanto preconceituoso acharmos que pessoas mais velhas
não são capazes de utilizar as TIC. Generalizações são sempre perigosas.
Há sim crianças que podem não gostar tanto de tecnologia, bem como há
“imigrantes digitais” que se adequaram perfeitamente a este mundo das TIC.
Como
educadores, precisamos pensar, independente de qualquer classificação de
gerações, de que forma podemos aproveitar o potencial das TIC para melhoria da
qualidade dos processos de aprendizagem, desenvolvimento da autonomia dos
alunos e, consequentemente, aprendizagem ao longo da vida.
Estes
aspectos não são tão simples assim… Não dependem apenas do manuseio, interesse
ou facilidade técnica para uso das TIC. Cada educador precisa saber avaliar se
os seus alunos – os chamados “nativos digitais” – sabem ou ao menos possuem a
intenção de utilizar as tecnologias digitais para aprender algo, compartilhar
ideias, selecionar criticamente informações que encontram na Web ou mesmo
desenvolver trabalhos colaborativos. É nesse sentido que também
precisamos contribuir com a formação de nossos alunos.
Não
basta apenas nos contentarmos em ter os alunos nas redes sociais on-line.
Afinal, estas redes sempre existiram e é natural que eles “curtam” encontrar e
interagir com conhecidos (e o pior… desconhecidos também) no Facebook ou no
Orkut. Porém, quantos destes sabem navegar com segurança na internet?
Vejo
educadores propondo atividades para que os alunos realizem no Facebook e no
Orkut, com o simples argumento de que “já que eles gostam… então temos que
usar”. Ora, se eles já gostam, essa não é uma razão pedagógica para o uso das
redes sociais. De fato é necessário aproveitar o que eles gostam ou ao menos
não ignorar as características dos espaços em que manifestam interesse em
atuar, mas a escola precisa, para cumprir sua missão social, ir além do que os
alunos “curtem”. Se por acaso eles não “gostarem” de escrever, pensar,
aprender… não poderemos deixar de fazê-lo.
Aos
professores, mesmo os que forem considerados “imigrantes digitais”, resta a
experiência de estarem há mais tempo neste mundo e de conhecerem desafios que
não são nada novos. A dificuldade em trabalhar com pesquisa na escola já
existia antes da era da internet e hoje é facilitada pelas tecnologias
digitais. Da mesma forma que persiste o bullying, hoje temos desafios
ainda maiores com o cyberbullying. Por outro lado, há muitas novas formas
de aprender e compartilhar conhecimento em rede com a disponibilidade de
recursos que temos hoje on-line. Esse processo pode ser ainda mais enriquecedor
se combinado com recursos tão bem conhecidos pelos professores e que existem há
muito tempo na escola, como os livros impressos.
É
preciso unir o útil ao agradável. Unir talvez os “imigrantes” com os “nativos”
e pensar de que modo esta parceria pode trazer benefícios para a educação. Se
os “nativos digitais” já gostam de utilizar as TIC, interagir on-line e
demonstram também facilidade técnica, a grande contribuição do professor pode
ser provocá-los para que usem toda essa potencialidade para aprender ao longo
da vida e para que sejamos produtores de conhecimento e não meros “curtidores”
de serviços e novas tecnologias.
Por Mary Grace Andrioli
Texto
publicado no Blog da Editora Ática, “Eu Amo
Educar”
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